quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Jogos violentos cooperativos não moldam personalidades agressivas, conclui estudo

Games de caráter violento se encontram em lojas físicas e virtuais do mundo todo, e, apesar dos títulos terem uma classificação etária, nem sempre quem está jogando respeita a idade mínima determinada ? independente se quem está no controle são os próprios pais.

Quando os jogos tomaram um rumo "tridimensional" ? saindo daquela coisa quimérica -, gráficos e sons sobremodos realistas exercitaram o córtex cerebral dos jogadores, os quais passaram a contemplar e se viciar em títulos cada vez mais excitantes. O primeiro jogo 3D lançado foi Wolfenstein 3D (1992), que deu início a uma nova era de jogabilidade oferecendo justamente a temática violenta ? um FPS de gráficos simples, mas com variados elementos nazistas da Segunda Guerra Mundial. A partir desse princípio, inúmeras desenvolvedoras passaram a investir em títulos tocando no mais alto grau de violência, como a nova-iorquina Rockstar Games, responsável pela série Grand Theft Auto (GTA), Bully e Manhunt, alguns dos games mais polêmicos e violentos da história; isso sem mencionar as séries Call of Duty e Battlefield, e ainda Dead Space, Thrill Kill, Silent Hill, Resident Evil, Fallout, Crysis, Halo, Mortal Kombat e God of War. Jogos violentos estimulam personalidades violentas?

Esta pergunta já foi motivo de longos debates. A maioria dos jogadores nega que há alguma ligação entre o seu mundinho virtual e o mundo real ? os críticos poderiam argumentar que uma afirmação assim possa ser mais um sintoma do vício. É evidente que não são todos os jogos violentos que possivelmente influenciam a prática da violência no mundo real, e uma diversidade de fatores estão envolvidos; o principal deles é o histórico psicológico de um indivíduo, bem como as situações e condições nas quais ele cresceu no ambiente familiar e escolar.

Para tentar responder à pergunta difícil de ser calada, pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio, EUA, fizeram dois novos estudos e descobriram que jogos violentos não interferem na personalidade de uma pessoa se eles forem cooperativos, ou seja, multiplayer.

"Claramente, a pesquisa estabelece que existam ligações entre os jogos violentos e agressões, mas isso é uma visão incompleta", disse David Ewoldsen, co-autor dos estudos e professor de comunicação na Universidade do Estado de Ohio. "Na maioria dos estudos encontramos relações entre jogos violentos e agressões com pessoas jogando sozinhas. O aspecto social dos jogos de hoje pode mudar um pouco as coisas".

O estudo envolveu a participação de 119 estudantes universitários que tiveram que jogar o game Halo 2 com um parceiro, competitivamente ou cooperativamente. Antes de começar, eles tiveram que preencher um questionário para descrever seu histórico como jogador e informar sobre suas reações de agressividade. Os participantes foram instruídos a chegar o mais longe que podiam no jogo, trabalhando com seu parceiro na campanha cooperativa de Halo 2. Nesta condição, a dupla trabalhou em conjunto para derrotar os inimigos controlados pelo computador.

Após jogarem o game violento, os mesmos pares de participantes que jogaram com ou uns contra os outros participaram de um jogo da vida real onde tiveram a oportunidade de cooperar ou de também competir com o outro. Para esta atividade, os pesquisadores notaram que os estudantes se engajaram olho por olho, um comportamento visto como precursor para iniciativas de cooperação. Os resultados mostram que os participantes que jogaram os jogos cooperativos expressaram mais tendências de cooperação num jogo ou atividade da vida real.

"Essas descobertas sugerem que outras pesquisas sobre jogos violentos precisam considerar não apenas o conteúdo do jogo, mas também a forma como os jogadores estão jogando", disse John Velez, estudante de pós-graduação em comunicação na universidade.

O segundo estudo vai um passo além, destacando que cooperar na jogabilidade de um título violento pode até mesmo unir pessoas de grupos rivais; neste caso, estudantes da Universidade do Estado de Ohio e da Universidade de Michigan.

80 estudantes de Ohio foram pareados com uma pessoa que eles pensavam que era um estudante "rival" de Michigan, mas que, na verdade, era um dos pesquisadores que vestia a camisa da Universidade. A dupla jogou o título em primeira pessoa Unreal Tournament III, que tem conteúdo realista e violento, como companheiros ou rivais. Depois eles participaram do mesmo jogo da vida real aplicado no estudo anterior com o seu suposto parceiro, e também responderam questões sobre seus comportamentos agressivos.

Exatamente como no primeiro estudo, os jogadores que cooperaram no jogo virtual, mais tarde mostraram maior cooperação do que aqueles que competiram uns contra os outros; mesmo quando os participantes de Ohio pensavam que estavam jogando com um rival da Universidade de Michigan.

"O ponto é que a maneira de agir no mundo real substitui rapidamente tudo o que aconteceu nos jogos", disse Ewoldsen. "Os jogos não estão controlando quem nós somos. O que é mais importante: cooperar com outro ser humano, ou matar uma criatura digital?".

E você, agora está pronto para exagerar na dose do multiplayer cooperativo, ou prefere ser um jogador solitário que se esconde atrás do teclado enquanto mata seus oponentes virtuais brutalmente?

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